quinta-feira, 16 de junho de 2011

O que é isso, companheiros?


Em Minas Gerais, os professores Estaduais, bem como a Polícia Militar estão em greve. Fizeram uma passeata nas principais vias de BH no intuito de chamarem a atenção do governador Anastasia para problemas que a anos luz não são resolvidos: desvalorização do profissional, piso salarial justo, condições dignas de trabalho e justiça para a classe. Quando eu falo de justiça é porque, muitas vezes, e bem conveniente para o nosso governador, somos massacrados pela mídia, que nos chama de baderneiros e vagabundos. A "vagabunda" aqui que vos fala é professora da rede estadual desde 2003 por concurso público. Acordo às 5 horas da manhã, planejo minhas aulas, levo muito trabalho para a casa sem ganhar nada por essas horas extras que tiram minhas horas de lazer e descanso. Trabalho em mais de uma escola para pagar as contas e ainda sou chamada de vagabunda por pessoas que sequer sabem da realidade de ser um professor. Estudei, formei em Letras na Uni-BH, tive sonhos de uma Educação melhor no país, fui para o curso de Letras sustentando na minha cabeça o sonho de ser educadora e poder servir de algum modo para um bem em comum. Quando me deparei com a realidade meu sonho havia se tornado pesadelo. Político nenhum se importa com Educação no Brasil, pois, se o povo se tornar "educado", "politizado", muitos ladrões, que estão no poder, não serão votados nas eleições.

Falou-se novamente em greve em Minas Gerais. Eu, no início, não estava aderindo à greve por motivos que só cabem a mim e eu não quero dividir com ninguém. O sindicato foi à escola onde trabalho e a maioria votou contra a greve. Algumas pessoas do corpo docente estavam apelando de forma agressiva com aqueles que não queriam participar, porém, iam dar apoio aos colegas indo às Assembléias.

Eu nunca vi tanto desrespeito numa sala de professores e me nego a pensar que meus colegas têm a capacidade de apontar o dedo na cara de quem tem opinião contrária à greve. Sim, greve é um direito do trabalhador, mas não se esqueçam que temos o pior governador que já vi, claro que existiram outros ruins, mas Anastasia, na minha opinião não vale o prato que come pelo simples fato de ter na família uma professora, saber da luta que é para sobrevivermos e ainda assim nada o toca nesse sentido. É o velho ditado: "Se quiser saber qual é o caráter de um homem, dê poder a ele". Poder, diga-se de passagem, mal conduzido. Ainda bem que eu não tenho na minha consciência o peso de ter votado nele, porque eu NÃO votaria em alguém como esse cidadão. É meu direito não gostar dele como político, não estamos na ditadura e eu posso expressar minha opinião como eu quiser. Dizer a verdade não é crime.

O que eu fiquei indignada foi com o tratamento de meus colegas uns com os outros. Somos sim, uma classe desunida e eu vi isso convivendo muito de perto com os que desrespeitam a opinião alheia. Pior é ver que isso estava claro até para os alunos, pois alguns colegas tiveram a falta de classe de bradar pela escola inteira, comprometendo o trabalho e andamento da instituição, apontando o dedo na cara de quem não queria aderir à greve e acusando sem provas e indevidamente alguns professores de "dedo duro" e "traidores" da Classe. Ora, deveríamos ser exemplos para nossos alunos, não? O que vi foi um horror e eu, pela primeira vez na vida, tive vergonha de ser professora.

Sei que muitos de meus colegas sabem respeitar a opinião alheia e entender a visão do outro, mas fico indignada ao ver colegas apontando o dedo atrevido e inquisidor para outros. Onde estamos, colegas? Virou circo isso? Tomemos postura de educadores, pois há alunos nos observando. Anastasia espera essa conduta errônea de nós todos e estamos dando a ele exatamente o que ele quer.

Eu, muito novinha, vi Collor passar por um Impeachment e de cara pintada fui às ruas me manifestar junto com o Brasil todo. Meus professores queridos, dos quais nunca me esqueci os nomes, José Cláudio (que me ensinou matemática), Maria das Dores (Mestra em língua portuguesa), Petrina, Hélio, Sandra, Bethoven, se eu ficar aqui citando nomes dava mais um post, ensinaram-me a lutar desde cedo, por isso eu adorava ir às manifestações. Meus professores foram meus exemplos de vida e superação, pois desde que me entendo por "gente" eu sei que professor não vive, sobrevive. Hoje sei disso "na carne". Naquela greve de professores estaduais em que o Paulão estava liderando aqui em BH eu participei com meus professores. E eu nem professora era na época.

O que mudou de lá para cá? O que houve com essa Classe? Onde está o respeito uns com outros? Sim, quem luta, educa, já dizia um professor, colega meu onde trabalho. Mas quem sabe lutar com dignidade, sabe também respeitar. Somos sim, exemplos para essas crianças e adolescentes, mas sejamos BONS exemplos.

Eu não posso deixar de dizer que a carta lida na sala dos professores por Ana, professora de português, comoveu-me muitíssimo. Aquelas palavras foram do fundo do coração e me fez refletir sobre o assunto. Comoveu-me também o fato de um colega meu ter lutado sozinho na rua, em frente à escola segurando um cartaz nas mãos, enquanto, outros colegas meus, que apoiavam a greve, apontavam o dedo na cara de quem trabalhava acusando traição à Classe. A esses colegas do dedo esticado, que também estavam na escola TRABALHANDO e criando discórdia para todo mundo ver, eu digo que deveriam estar com o lutador solitário que gritava na rua por um salário digno. Apontem o dedo para vocês mesmos, pois o que vi na escola nesse dia infeliz foram professores de opinião contrária à greve atravessar os portões da escola para dar água e alimento ao que colega que na rua lutava ao modo dele, enquanto os que o apoiavam incitavam a balbúrdia e desorganização dentro da instituição e sequer pensaram naquela figura sozinha com um cartaz na mão.

Sim, devemos lutar, mas tenhamos mais sabedoria no modo com o qual estamos indo ao campo de batalha. Saibamos escolher a melhor tática de luta para conquistarmos nossos direitos sem entregar de mãos beijadas esse direito a políticos como Anastasia.

Para a luta ser digna, primeiro, respeitemos o direito de pensar dos outros.

Beijos, beijos!

5 comentários:

  1. Gee! Teachers in Brazil have a bad life. I don't know what to say. If Brazil wants to become a great world power, it has to invest in the Education of their people. Corrupt politicians should be punished for their crimes against the people. As Nina said Brazil needs politicians who love their country.

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  2. Professora, já percebeu que estudantes da minha idade não tem como idolos politicos e sim professores? Será porque, né? Nunca vi ninguem falar que tem um exemplo de vida em um politico. Eles deviam pensar nisso, mas estão muito ocupados roubando e desviando dinheiro para paraisos fiscais, né? Acham que nossa geração é burra, mas espera só que não tarda uma revolução armada nesse país de merda. Cadê o Bin Laden quando a gente precisa de um para destruir Brasilia? Hahahahaha. Piadinha sarcastica.

    FORA ANASTASIA!

    Aécio e Anastasia, tudo com A = tal "pai", tal "filho".

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  3. Que barraco, profe! Eu vi e achei feio demais. Falta de vergonha eu acho. Fazer greve tdo bem é um direito de voces, mas tá pegando muito pesado o nivel da escola.

    Abraços

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  4. Olá,Marina!Agora foi você que emocionou com seu texto, fico feliz em ter uma "companheira de luta"como você!Um abraço!Profa.Ana Luzia

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  5. Querida Ana, é uma honra para mim tê-la como companheira também e trabalhar com alguém de tamanho caráter e dignidade. Sua carta me marcou muito pelas palavras e o modo como elas foram lidas. Seu modo de dizer sua opinião perante todos foi o mais sensato e verdadeiro do que ter assinado listas pelo sim ou pelo não da greve. Eu quero aqui te dizer o quanto estou feliz por ter você como colega e diga até mesmo amiga naquela escola.

    Parabéns pela carta, querida e mais ainda, parabéns pelo modo honrado e sincero de dizer as verdades do seu coração.

    Um grande abraço, Ana!

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