domingo, 2 de janeiro de 2011

A verdade de cada um...


A conduta do homem é determinada pelo que ele pen­sa, acredita, representa e prevê. Através do trabalho cog­nitivo, ele tenta construir para si um mundo significativo e, para isso, ele classifica e ordena uma multidão de fatos, de objetos e de pessoas, que julga conhecer em detalhes.

Os acontecimentos estão constantemente ocorrendo em torno de nós e são ordenados de acordo com diferen­tes concepções ou interpretações. Somos nós, conforme nosso próprio modelo mental, que organizamos, em nosso pensamento, certos acontecimentos e não outros, enfati­zando alguns deles, valorizando uns mais do que os de­mais e criando assim sentido para fatos não organizados e sem significado. Nunca chegamos a captar a verdade “verdadeira”, pois ela é realmente criada de acordo com o momento que estamos vivendo, adequada àquela situação particular.

Com freqüência, acreditamos estar de posse da verda­de ao percebermos certa relação prática e funcional entre os nossos desejos e esperanças e os resultados aparentes de nossas ações. Ao estabelecermos apenas uma concepção da realidade caótica, eliminamos várias outras interpretações possíveis, e ficamos convencidos ser a nossa análise a única aceitável ou correta.
Vejamos alguns exemplos: um garoto residindo na zona rural criou um modelo de diversão a partir de uma bola, um cão e algumas brincadeiras existentes em sua cidade. Um dia ele veio passear em BH e visitou um par­que de diversões. Provavelmente ficou boquiaberto, confuso ao ver tanto brinquedo desconhecido.

Ora, o “deslumbramento” seria o oposto caso o menino estivesse acostumado a visitar a Disney World. Um segun­do exemplo: uma adolescente de 15 anos conquista o seu primeiro namorado, um imberbe de 16 anos. Fica encanta­da com suas declarações de amor, com sua técnica eficiente de abraçá-la e beijá-la. Posteriormente, conhece um rapaz treinado nessa arte com esmero. A mocinha passa a ter um novo modelo, uma nova “verdade” do que seria um “bom” namorado e reformulará o seu julgamento inicial.

O amigo leitor poderá lembrar-se de vários exemplos pessoais: suas preferências culinárias antigas e as de hoje. Suas escolhas passadas e as atuais quanto à música, pas­seios, política, literatura, programas de TV, futebol, etc. A sua concepção do mundo, com a idade tornou-se diferen­te, seu “mapa mental”, ainda que vivendo num “território” muito semelhante ao antigo, não é mais o mesmo. Ago­ra, possuindo novos valores, você percebe acontecimentos não antes notados, representa fatos ao seu redor de ma­neira diferente. “Enxerga” o mundo com outros “olhos”.

Muitos se contentam com uma “verdade” única, se agarram a ela e nunca a abandonam, evitando, a qualquer preço, o seu questionamento e, também, a dúvida e a in­certeza que outras idéias poderiam trazer. Esses fanáticos querem manter, a todo custo, uma segurança impossível de ser conseguida nos seres humanos.

As primeiras “verdades” com as quais convivemos não são concepções nossas, mas sim dos nossos educa­dores: pais, professores, companheiros e outros. Elas nos são transmitidas, na maioria das vezes, de maneira sim­ples, ingênua e até mesmo tola.

Uma vez inculcadas essas “verdades”, elas nos darão uma representação do mundo semelhante à dos nossos educadores. As novas informações que nos chegam poste­riormente, com freqüência vêm fortalecer as idéias primiti­vas, pois o comum é convivermos com pessoas que pensam de modo semelhante ao nosso, lermos livros previamente censurados e assim por diante. Psicologicamente é mais fácil manter as verdades iniciais, pois assim não temos que re­pensar, jogar por terra crenças queridas e familiares, o que nos obrigaria a reformular nossa conduta ao criarmos novos modelos mentais. Não é fácil trocar a verdade “minha mãe sempre me amou”, por “minha mãe, que freqüentemente me odiava” ou “minha namorada só se encontra comigo” pela nova concepção “minha namorada está me traindo com outro”. Muitas vezes, apesar de todas as evidências, con­tinuamos a adotar a crença inicial. Quase sempre só com algum sofrimento, até mesmo com algum sentimento de culpa, é que conseguimos mudar as “verdades” iniciais, principalmente quando as novas são totalmente diferentes das antigas.

O homem é um inventor de verdades, um concep­tualizador de acontecimentos, um representador de uma realidade que ele nem sabe quanto de real ela tem. E como se dá essa invenção? Por capricho, raciocínio ou pressão dos fatos? Ainda não possuo essa verdade, mas gostaria muito de tê-la.

Nenhum comentário:

Postar um comentário