quinta-feira, 22 de julho de 2010

Suscetibilidade



Ressentimento é uma mágoa crônica. Na verdade, a palavra ressentir quer dizer “deixar-se sentir novamente” ou “voltar-se ao sentimento passado”.

As criaturas suscetíveis às ofensas são aquelas que guardam rancor facilmente, remoendo o insulto e intensificando os efeitos debilitantes do ressentimento e da raiva. Quando estamos melindrados, experimentamos sucessivas vezes o mesmo sofrimento. Isso nos consome energeticamente e debilita nosso corpo físico e/ou o espiritual.

Perdoar é um ato de amor, em que reina a compreensão e a humildade. É um indício do amor a nós mesmos e aos outros. No momento em que perdoarmos, nos identificamos com nosso próximo; admitimos nossa falibilidade humana, reconhecendo nossas deficiências e nossa facilidade em errar.

Perdoamos na medida em que desfazemos a ilusão de que somos perfeitos. Sabemos que nosso grau de conhecimento é resultante de nossa participação e interação nos processos do Universo. Não somos criaturas isoladas, e sim parte de uma complexa rede da Vida. Estamos vivendo juntos, porém em diferentes níveis de amadurecimento e precisamos, todos, de muito perdão durante o processo evolutivo – precisamos perdoar a nós mesmos e aos outros. Admitir nossas falhas e não se ressentir é uma fórmula poderosa para remover os obstáculos à boa convivência. Não seria tempos de nos libertarmos dos “cárceres” do rancor e da mágoa?

Certamente, parte de nossa dificuldade em pedir desculpas se deve ao problema que temos com a realidade interior. Para chegar ao momento de nos desculparmos, devemos antes ser humildes ou honestos conosco, admitindo as nossas limitações e inadequações de seres espirituais em regime de crescimentos e de permuta constante. A humildade e o perdão caminham juntos. Eles nos levam às trilhas da compreensão dos equívocos e erros existenciais. Aliás, os enganos são oportunidades de aperfeiçoamento e amadurecimento para todos; são experiências para aprendermos a viver melhor.

Costumamos confundir, erroneamente, humildade com servidão, submissão e covardia. Ela é, sobretudo, “a lucidez que nasce das profundezas do Espírito”.

A humildade não está relacionada com o nosso aspecto exterior, mas com a maneira como percebemos as pessoas e as circunstâncias. É a habilidade de ver claramente, sem defesas ou distorções, pois nos limpa a visão e nos livras dos falsos valores.

Com “olhos humildes”, entendemos que perdoar é atitudes que requer mudança de nossas percepções, quantas vezes forem necessárias. Nossa visão atual é prejudicada pelas percepções do ontem sobre o nosso hoje, visto ficarmos quase sempre presos aos “fatos do passado”, permitindo que lembranças amargas escureçam o presente, mesmo anos depois de terem ocorrido. Compreender perdoando significa que somos capazes de mudar nossas velhas convicções e perceber novas evidências da verdade em nossas atitudes e nas alheias. Dessa forma, ficamos mais flexíveis e menos exigentes para com o comportamento dos outros.

(continua)

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