terça-feira, 6 de julho de 2010

Honestidade emocional



Um indivíduo em estado de fixação mental nada vê, nada ouve, nada sente ou nada percebe além da pessoa, objeto ou fato a que sua mente cristalizada se prendeu.
A fixação mental pode perdurar por séculos. A alma se isola do mundo externo, passando a visualizar unicamente o centro do desequilíbrio, permanecendo paralisada, dominada por ocorrências ou fatos aflitivos, recentes ou remotos.

Trata-se de uma verdadeira tortura mental sobre a qual o enfermo não tem nenhum controle. A fronte pensadora mantém um diálogo ininterrupto: vive em constante conversa de si para consigo mesmo.

A mente se fixa em determinada criatura ou acontecimento e fica incapaz de evitar que os pensamentos, as discussões e as palavras continuem girando sem parar. O mundo mental se torna hiperativo; repete o mesmo problema muitas vezes, levando a criatura à fadiga, acompanhada de uma sensação de cabeça pesada e de sobrecarga íntima.

A perturbação interior pode imobilizar-nos por tempo incalculável entre os fios de sua “textura de escuridão”. A alma infeliz se faz prisioneira não só de inimigos externos, mas, sobretudo, dos mais ferrenos inimigos: os internos.

Indivíduos doentes comtemplam tão-somente, e por largo tempo, as aflitivas criações mentalis deles mesmos, ficando obstruída a possibilidade de observarem novas e edificantes paisagens de desenvolvimento e crescimento espiritual. São processos de monoideísmos, verdadeiros estados mentais alucinatórios, em que vivem isolados em circuitos fechados. São aprisionados nos próprios painéis íntimos e justapostos às criaturas afins, coagulando ou materializando imagens repetidas por associação individual e espontânea.

Reservados, carrancudos, tímidos, envergonhados e desprovidos de humor, eis as características mais freqüentes desses indivíduos.

Na mansão do pensamento, o racioncínio emite as ordens, mas é o sentimento que guia. Vivem uma espécie de desonestidade emocional, criando um afastamento não apenas do mundo, mas também de si mesmas.

Criamos um bloqueio mental e/ou emocional, separando o nosso horizonte contextual e o nosso conteúdo sentimental, o que resulta na perda do verdadeiro significado de nosso mundo afetivo. Estar com medo ou negar o que sentimos pode nos levar a uma situação que provoca alucinação. A criatura não consegue resolver-se, por ignorar suas reações emocionais, nem mexer-se, por que se autodistrai, criando uma idéia fixa que a mantém imobilizada ou paralisada intimamente.

Aprender a identificar o que estamos sentindo é um desafio que podemos dominar, mas não nos tornamos especialistas da noite para o dia. Não precisamos reprimir nossos sentimentos rigidamente, nem permitir que eles nos controlem ou nos imponham atos e atitudes. Lembremo-nos de que apenas podemos nos redimir até onde conseguimos nos perceber, até onde nos permitimos sentir.

A alucinação ou a idéia fixa, tanto consciente quanto inconsciente, limita a nossa liberdade de ação em diversos setores da vida. Toda ilusão deixa a criatura obcecada, e não admitir o que se sente é uma forma de auto-ilusão. Para não ficarmos enredados nas malhas da fixação mental, precisamos entrar em contato com o “chão da realidade”.

A cura definitiva para esse tipo de mal é aprimorar nossos sentimentos e abrandar nosso coração, identificando com atenção as reações interiores e transformando-as para melhor.

A Vida Maior não tenta distanciar o homem da Natureza, mas facilitar sua conexão com ela. Portanto, mais cedo ou mais tarde, o homem terá de voltar à naturalidade da vida, destruindo gradativamente os excessos que contrariam as leis naturais, e por conseqüência, geram conflitos ilusórios e perturbação íntima.

A edificação da paz no reino interior se estabelece em nós definitivamente quando começamos a cultivar a “honestidade emocional” em todas as nossos relações, com nós mesmos ou com os outros.

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