sexta-feira, 1 de abril de 2011

Falando em Tantra


Tantra (ou Tantrismo) é o amplo termo pelo qual antigos estudantes de espiritualidade na Índia designavam um tipo particular de ensinamentos e práticas que tiveram base em uma antiga sociedade. Com o passar do tempo, estes ensinamentos propagaram-se, misturando-se com diversas outras culturas e correntes filosóficas e religiosas como o Hinduísmo, o Yoga, o Budismo, o Taoísmo, o Vedanta e outras. Esses ensinamentos não podem ser resumidos, porque o Tantra hoje abrange uma variedade e uma diversidade muito ampla de crenças e práticas, quase sempre antagônicas entre si e cheias de contradição.

Muitos trabalhos com o Tantra não trazem uma compreensão clara da extraordinária herança daquilo que pretendem representar e incorrem na perigosa distorção, vulgarização e banalização do sexo e no incentivo e valorização do jogo da sedução nos relacionamentos, como se o Tantra tivesse esse objetivo. Mesmo na Índia e no Tibet, o Tantra tem o seu quinhão de fracasso moral. De drogadictos a alcoólatras, de pervertidos a maníacos, muitos falsos mestres e gurus abrem seus clubes de encontro e sedução sob a indefinida denominação de "Tantra". O Tantra tornou-se, então, uma evasão fácil, reduto para inúmeros degenerados morais e sexuais.Mesmo em seu país natal, os ensinamentos Tântricos caíram em descrédito, precisamente por causa do uso indiscriminado de muitos de seus fundamentos atrelados ao sexo livre e superficial.


No Tantra Original, as práticas proporcionadas conduzem àquilo que se pode chamar de "Experiência Oceânica". Seu modelo básico para a interação com outros organismos e com o sistema não se processa através de uma única descarga liberadora e a conseqüente distensão após um período de tensão e esforço. Ao contrário, experimenta-se um fluxo brincalhão, relaxado e solto, mutuamente alimentador, com base no êxtase, num intercâmbio de energias que lembra danças e jogos (Leela, em sânscrito).

O resultado desta experiência permite que a pessoa vivencie a expansão dos próprios limites, a dissolução dos condicionamentos negativos, castradores e repressores, para se experimentar um sentimento de fusão com o parceiro e com o todo, em um estado de feliz unidade.

No Tantra, a união dos genitais e a conseqüente descarga orgástica, embora poderosamente experienciadas, são consideradas secundárias em relação à meta final, que é alcançar o estado transcendental da união dos princípios masculino e feminino em sua propagação ao infinito, a denominada Unyo Mystica.

As pessoas que alcançam essa forma de sexualidade experimentam a ausência de ruído biológico dentro de um complexo sistema espiritual, espontâneo e natural. Sob este aspecto, alguns componentes são fundamentais para alcançar a compreensão do significado original e verdadeiro do Tantra, sem os quais, seu sistema existencial e sua co-relação com o Sagrado fica incompleta.

O Tantra Original não está contido em livros ou textos, como constantemente é propalado entre os adeptos do Yoga ou do Budismo. Sua fonte é a própria fonte geradora da vida e é necessário alcançá-la de forma vivencial, através das meditações e dinâmicas propostas. Trata-se de uma conexão transcendente com a vida e o viver, que estão acessíveis e disponíveis a qualquer ser humano, pois não há privilégios.

O Tantra é simples e exige simplicidade por parte de quem o pratica.

O sistema existencialista humanista presente no Tantra necessita de confiança, entrega, relaxamento profundo, amor e compaixão, para que o estado de percepção e consciência ampliada conduza à experiência da supraconsciência.

O Tantra oferece ao indivíduo a chave que pode abrir a sua consciência, independentemente de sua cultura ou religião. A essência dos ensinamentos tântricos está contida na nossa natureza mais íntima, nosso estado primordial e iluminado, que é a nossa potencialidade inerente. Esses ensinamentos estão livres do Karma, porém são oprimidos pelos condicionamentos sociais. Nosso estado primordial não é algo que deva ser construído ou conquistado, mas algo existente desde o princípio, e goza da mesma sabedoria e inteligência que modela o universo e permeia a natureza. O ser humano perdeu o contato com essa sabedoria natural no esforço cotidiano de sobreviver. O Tantra possui os dispositivos para a conexão com essa fonte original, de onde emana a vida e as tramas do desenvolvimento das espécies.

(Deva Nishok)

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