domingo, 3 de abril de 2011

Trair



De repente, veio a certeza: aquela pessoa que ela amava, com quem já esteve a anos, em quem confiava, com quem tinha um ótimo sexo, que era carinhoso, confidente e tudo o mais a traía! Ela já desconfiava das viagens, telefonemas escondidos, SMS, presentes inesperados, novas idéias sobre relacionamento. Mas não queria acreditar. Afinal, seria muita falta de caráter de uma pessoa que tinha a sua confiança e dedicação e de quem ela se orgulhava. Além de se sentir enganada, via desmoronar a imagem que tinha do companheiro.

Trair é natural para algumas pessoas. Elas não percebem que com isso destroem amores verdadeiros e ferem quem não merece. Trair faz parte da natureza de algumas pessoas que não conseguem amar. Como o aventureiro italiano Giacomo Casanova ou o Juan da literatura, elas seduzem vários ou várias, mas não são fiéis a ninguém. Amam somente a si, amam se sentir amadas e desejadas.

A mulher a quem me referi acima sabia com quem estava lidando. No passado ele tinha tido várias mulheres ao mesmo tempo e isso era de seu conhecimento. Tratava todas com delicadeza, carinho e desejo. Tinha o poder de deixá-las apaixonadas. Comportamento que é típico dos traidores.

Confirmada a infidelidade, veio o dilema. Como agir? Amar um barraco, gritar, agredir, chorar, terminar? Ou fingir que não sabe, guardar para si a humilhação e a dor e apenas dar indiretas, fazer comentários velados? Ter uma conversa civilizada, dizer que o amava mesmo assim e que esquecerá tudo se ele se decidisse por ficar com ela? Ou apenas terminar, sem nem falar por que, já que ele sabe muito bem a razão?

Nenhuma das opções parecia satisfatória. É como se ela estivesse numa estrada e de repente caíssem barreira na frente e atrás do carro. Não dá para seguir nem para voltar. Se armasse barraco, de nada adiantaria; se fingisse que não sabia de nada, talvez somatizasse a negação, o sofrimento e ficasse doente, com insônia, enxaqueca ou algo pior. O ideal seria uma conversa verdadeira; mas ela sabia que ele iria negar, dizer que ela era louca por não ver que ele a amava, que tinha tesão, que além dela era só trabalho ou estudo.

O fato é que ela ainda o amava, embora não aguentasse ser tratada como burra. Sentia dor imensa, não parava de pensar nele com outra. Sentia culpa: será que isso aconteceu porque ela tinha envelhecido ou se descuidado, será que já não era mais bonita?

Não era nada disso. Mulheres maravilhosas como Sandra Bullock e Nicole Kidman também foram traídas. Como disse antes, trair, para algumas pessoas, é uma compulsão. Se ela não conseguia terminar a relação, talvez a solução menos dolorosa era continuar nela mais um tempo - para ir, aos poucos, deixando que morresse a imagem falsa que tinha desse homem; para se conscientizar de que o homem que ela amava não era ele, mas um reflexo dela mesma. Assim, devagar, ela iria deixando e gostar dele e poderia se abrir para outros interesses, outras pessoas, dedicar-se a si mesma, encarar, enfim, a realidade. Restava-lhe o consolo de saber que não era só com ela que isso acontecia, e que tudo acabava um dia, como uma flor que murcha, uma nuvem que passa, uma onda no mar. E que o mais importante era manter sua integridade, seu compromisso com a vida e saber que ela, sim, nunca traiu, apenas amou de verdade.

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