domingo, 5 de dezembro de 2010

As razões de cada um



"Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa"

A subjetividade é um capítulo admirável da ética quando enfocado sob o ângulo da formação de juízos morais. As razões humanas para explicar as próprias atituddes são algo inerente à individualidade de cada ser. Mesmo os perversos encontram "motivos justos" para suas ações, nas justificativas pertinentes a seus raciocínios egoístas.

Juízos éticos sempre serão subjetivos e, por isso mesmo, não constituem bons argumentos para fundamentação de defesas a medidas e projetos que visem colaborar na restauração da reorganização de nossa Seara. Assinalar condutas morais de pessoas ou instituições, como base para propor mudanças, é fragilizar nossas disposições de cooperar, porque penetramos um campo essencialmente individual e inacessível. E mais a mais, julgar é concluir veredictos sobre o comportamento alheio, no qual, quase sempre, falhamos.

Juízes eminentes declaram sentenças injustas, conquanto se preparem para não fazê-las, e a maioria de nós, na rotina das relações, costumamos emitir sentenças e pareceres pelo hábito de criticar e analisar defeitos dos outros, sem qualquer sintonia com a verdade sobre tais pessoas, ou apenas analisando-as superficial e parcialmente.

O fato de cada individualidade ter suas razões é motivo com sobras para que respeitemos cada qual em seu patamar, o que não significa tenhamos que concordar e adotar passividade ante suas movimentações. Aqui penetramos em un dos mais delicadod tópicos do relacionamento interpessoal, em nossos ambientes de reeducação espiritual: a convivência pacífica e construtiva frente à diversidade de opiniões, entendimentos e posturas.

A tendência marcante de nossa personalidade é estabelecer idéias pré-concebidas, expectativas mal dimensionadas e estereótipos sobre as ações alheias, e, mesmo quando nosso julgamento é pertinente, preferimos a referência mordaz e o destaque para a parte menos construtiva a ter que conjeturar, em clima de indulgência e misericórdia, sobre as motivações que ensejaram os comportamentos alheios.

Somos, comumente, escravos do nosso próprio orgulho que procura defeitos nos outros para tentar fazer-nos melhores. Entretanto, o próximo é espelho de nossos valores e imperfeições, e, quando lhe destacamos uma deficiência, precisamos voltar-nos para a intimidade e descobrir nosso elo de atração com a questão em pauta; isso será um verdadeiro exercício de autodescobrimento.

A dificuldade consiste em redimensionar nosso milenar costume de ver o "cisco no olho do outro e não perceber a trave no nosso" (citando Mateus, 7:3 a 5)

Um bom princípio para a reeducação de nós mesmo será o cultivo do sentimentos de piedade e compreensão para com todos. Mentarlizar-nos, todos, em um só barco com a presença de um Mestre conduzindo-nos pelas tempestades de nossas extensas carências espirituais, e jamais deixar de recordar que estamos em patamares variados de crescimento.

Isso exige-nos o vínculo com a atitude de alteridade, ou seja, o reconhecimento da diferença, da distinção da qual o outro é portador, a fim de nutrirmos constante indução mental na formação do hábito de respeitar as diferenças no modo de ser de cada qual.

As defesas apaixonadas no campo dos julgamentos morais têm feito muito mal ao nossos ambientes de amor. Conquanto muitas vezes sejam verdadeiros, devemos aprender com o maior Mestre que já houve na Terra, Jesus, como externá-los para não ferir e conturbar. Saber apresentar discordâncias e falhas é uma arte da qual temos muito ainda a aprender.

Lembremos o episódio inesquecível da mulher adúltera para termos uma noção lúcida sobre como se portar frente à verdade dos que nos cercam. Naquela oportunidade, Jesus não faltou com o corretivo e nem julgou-a; utilizando-se de um extraordinário recurso pedagógico, devolveu a subjetividade dos juízos à consciência de cada um através do pronunciamento "atirem a primeira pedra os que se encontrem isentos do pecado", e todos sabemos qual foi o efeito desse recurso na vida pessoal dos que ali se encontravam.

Nossa necessidadde de guardar idéias, em forma de juizos definitivos e inflexíveis sobre as criaturas, é o fruto do nosso orgulho. Nossos julgamentos manetas pecam pela ausência de bons sentimentos, pela parcialidade e, acima de tudo, pelas projeções que fazemos de nós mesmos.

A dificuldade de aceitação das pessoas como elas são, enquadrando-as em concepçoes e padrões definiddos pela nossa ótica de vida, precisa ser corrigida para ensejar um melhor nível de entendimento em nossa caminhada. A inaceitação chega a ser tão ostensiva que nos magoamos com facilidade com as ações que não correspondem às nossas expectativas, ainda que tais ações não nos prejudiquem. Devido a essas expectativas que depositamos em pessoas, ocorrem cobranças injustas e ofensas dilacerantes que só inspiram o revanchismo e invigilância.

Esse não deveria ser o nosso clima. E como ficam os princípios imortais que deveriam esculpir o nosso caráter?

Em verdade, o que temos entre nós são necessidades extensas nos terrenos da melhoria espiritual, sendo necessário compreender que ninguém faza o que faz para magoar ou no intuito de denegri. São hábitos arraigados contra os quais estamos em permanente batalha.

Virá o instante do entendimento, da complacência e da tolerância como veredas de esperança para um tempo melhor. A isso chamaoms união e fraternidade. Nessa hora, quando assentarmos à nossa mesa dispostos a contemplar a diversidade do outro e dialogarmos como irmãos de ideal, descobriremos, estupefatos, quão distantes da realidade se encontram nossos julgamentos, porque compreenderemos melhor quais eram as razões de cada um...

Paz a todos, meus queridos! Um bom dia a vocês!

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