quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mil Pedaços...



Eu não me perdi,
E mesmo assim você me abandonou...
Você quis partir, e agora estou sozinho
Mas vou me acostumar..
com o silêncio em casa, com um prato só na mesa.
Eu não me perdi,
O Sândalo perfuma o machado que-o feriu
Adeus, adeus ,adeus meu grande amor.
E tanto faz.. de tudo o que ficou,
Guardo um retrato teu,
e a saudade mais bonita.
Eu não me perdi,
e mesmo assim ninguém me perdoou..
Pobre coração - quando o teu estava comigo era tão bom.
Não sei por quê acontece assim e é sem querer
O que não era pra ser: Vou fugir dessa dor.
Meu amor
se quiseres voltar - volta não

Porque me quebraste em mil pedaços.

sábado, 18 de setembro de 2010

Tradução de Sakurairo Mauroko



Quando as cores das cerejeiras tremulam, eu estou sozinha
Continua exausta, eu não posso me libertar desses sentimentos contidos dentro de mim

Quando a cor das novas folhas balança, sentimentos transbordam
Eu perco a vista de tudo e vagueio ao seu redor

As árvores em nossa volta nos falam em silêncio
O que nós dois veríamos:
As pessoas não devem ser limitadas em um só lugar

Quando as murchas folhas mudam de cor, eu estou perto de você
E do mesmo jeito que o passar dos dias acaba, nosso amor muda

Mas por favor, deixe essas árvores
Protegerem esses sentimentos
Silenciosamente murmurando suas folhas sobre nós
Só mais uma vez…

Em breve, as estações vão passar
E nós seremos levamos a outro lugar
Mas nesse exato momento, só há uma coisa que eu sei
Me abrace, silenciosamente

Cobertos pela neve, os sentimentos se perdem
As pegadas se apagam, sons desaparecem em vão

Mas por favor, deixe essas árvores
Protegerem esses sentimentos
Pois assim, congelados na eternidade
Nós poderemos viver aqui (nós estaremos vivos aqui)

As árvores em nossa volta nos falam em silêncio
O que nós dois veríamos:
As pessoas não devem ser limitadas em um só lugar

Quando as cores das cerejeiras tremulam, eu estou sozinha
Saboreando minhas lembranças de você.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ser normal



Hoje, eu senti uma tristeza estranha... um aperto no coração... Hoje, eu me lembrei de coisas da minha infância e percebi que, realmente, eu nunca fui muito "normal". Eu não queria as mesmas coisas que as crianças da minha idade queriam, eu não sonhava como elas, não sentia como elas. No fundo, eu sabia que nunca levaria uma vida "normal"... nunca teria os poucos sonhos que sonhei, realizados.

Minha família queria para mim uma vida como a de todos os ditos "normais": que eu estudasse, formasse, arrumasse um emprego, namorasse, casasse, tivesse filhos e morasse com minha família vivendo um vida feliz e em paz. Isso não aconteceu e não acontecerá. Eu sei disso no fundo. Eu sempre fui a "estranha" e me sentia profundamente só.

Eu queria poder sonhar como minhas amigas, casar e ter uma vida normal, mas para quê nadar contra a correnteza?

Na nossa sociedade, hipócrita e preconceituosa, você tem que amar pessoas da mesma idade, de igual posição social e intelectual, uma que a sua família aceite para que você possa se casar na igreja e dar aquela "satisfação" para a sociedade, para seus vizinhos, amigos, etc. Na vida real, na vida prática, isso não funciona. Que lindo no papel, mas não é bem assim que acontece. O coração não obedece, o corpo não quer, a alma enfraquece... Aprendemos a lutar contra nossos desejos, fazemos tudo que os outros querem, vivemos realidades e felicidades plásticas demais.

Quando eu era pequena eu acreditava em Papai Noel, duendes, magia, contos de fadas... Nas brincadeiras de criança, eu nunca fui a princesa... eu era a guerreira. Assim, eu cresci. Direto para a batalha do dia a dia. Eu adorava Joana D'arc. Minhas bonecas tinham "a vida" igual a de minhas amigas, nas brincadeiras e histórias que eu criava para elas. Até minhas bonecas tinha a "vida" normal... a vida que eu quis para mim.

Naquele quarto solitário, histórias bonitas eram escritas, criadas, mas nunca vividas... nunca iriam ser e eu sabia. Lembro-me de um Natal, aos 6 anos, que ao acordar, meu pai querido me disse que Papai Noel havia deixado um presente na árvore. Saltei da cama e lá, no pezinho da árvore, estava uma bicicleta vermelha. Fiquei muito feliz com o presente, mas eu queria mesmo ter ganhado o livrinho de mágica da fadinha Clara (história que havia escutado na escola), cuja magia e feitiços me transformariam numa pessoa igual às outras. Quanta inocência! É de rir até...

Então, cresci tendo dentro de mim a certeza de que nada na minha vida seria "normal" e que tempos dificéis viriam... cedo ou tarde. Vieram, enfim. Eu pareço mais aquele menininho robô, do filme A.I: Inteligência Artificial, que tudo que queria era encontrar a Fada Azul, para que ela o transformasse num menino de verdade, pois assim, ele achava que teria o amor de sua mãe. E ele achou a Fada Azul, porém há sonhos que não devemos sonhar. Nunca.

Se eu fosse normal, talvez eu tivesse o amor que eu queria para mim, aquele sabe... que eu nem ouso sonhar... não mais...

Nas minhas lembranças, vi a clara imagem do meu aniversário de 15 anos. Eu soprei as velas pedindo a Deus que um dia, ou em alguma vida, se eu merecer, eu pudesse ter uma vida normal... ser como qualquer pessoa... normal.

Quem sabe um dia... quem sabe...

Hoje, eu escolhi uma música, de Mika Nakashima, que adoro para vocês, meus queridos. E eu os desejo uma vida feliz, linda e normal... tudo que eu não poderei ter.

Um grande abraço,

Marina Nazle Abras.

sábado, 11 de setembro de 2010

Eu prefiro...



"É melhor tentar e falhar que ocupar-se em ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão, que nada fazer. Eu prefiro caminhar na chuva a, em dias tristes, me esconder em casa. Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização. Mesmo se eu soubesse que amanhã o mundo se partiria em pedaços, eu ainda plantaria a minha macieira. O ódio paralisa a vida; o amor a desata. O ódio confunde a vida; o amor a harmoniza. O ódio escurece a vida; o amor a ilumina. O amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo..."

Martin Luther King

Projeção



"Sabe,eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia,e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver,e desamar era não mais conseguir ver,entende?"

Palavras...



"O amor não lembra do que precisa. Amor é não precisar de nada. É precisar do que acontece depois do nada, ainda que não aconteça. O amor confunde para se chegar ao mistério. Embaralha para não se ouvir. Perde-se no próprio amor a capacidade de amar. Amor é comer a fruta do chão. O chão da fruta. O amor queima os papéis, os compromissos, os telefones onde havia nomes. O amor não se demora em versos, se demora no assobio do que poderia ser um verso. O amor é uma amizade que não foi compreendida, uma lealdade que foi quebrada. O amor é um desencontro por dentro.''

Fabricio Carpinejar

"Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos."

Santo Agostinho


"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez."

Caio Fernando Abreu

Engano



Agora o amor acabou,
Achei que era pra sempre..
Será que era amor?
O sentimento se foi..
E você não tentou recuperá-lo,
Nem ao menos superá-lo..
Você nunca me amou!
De nada adiantou.
Não era recíproco,
Você não me amou..
Corri atrás, chorei, me desesperei
E só agora vejo quanto tempo esperei..
Desisti do sentimento,
Que passou para sofrimento..
Virou quase um tormento!
Até sei que errei..
Mas agora superei.
Do amor desisti..
Muito me feri.
E não há cabimento
Para nesse amor insistir.

O amor acabou



Quando foi que o amor se acabou e o príncipe virou sapo e a princesa desencantou? Provavelmente depois de tantos beijos não dados, de tantos momentos deixados de lado, de tanto monólogo de ambas as partes. Em geral, o amor assiste à própria morte e resta silencioso. Ou ele grita por socorro e as pessoas se fazem de surdas. O mais difícil no fim de um relacionamento é admitir que tudo acabou.

Há pessoas que insistem simplesmente porque não querem admitir o fim. E caminham vagarosamente na vida, vivendo o dia-a-dia como se não houvesse o depois. Mas a vida não acaba quando morre um amor. Ela simplesmente passa por uma transição que, como todas, é freqüentemente dolorida. Tememos as mudanças porque tememos o desconhecido. Mas o que é o desconhecido?

Mesmo o dia de amanhã, não podemos tocá-lo até que ele chegue a nós, não podemos sabê-lo até que chegue o momento em que, mergulhados, precisamos vivê-lo. Aceitar a morte, qualquer que seja, é reconhecer nossa vulnerabilidade diante da vida. E somos seres orgulhosos por demais para querer reconhecer nossa fragilidade ante o que não podemos controlar. E a vida não se controla.

Ela se abate sobre nossas cabeças e tudo o que podemos fazer é vivê-la o mais intensamente possível com todos os riscos e perigos que ela nos impõe, com todas as surpresas, que ela nos reserva. Precisamos é tirar o melhor partido do que está nas nossas mãos e reconhecer que pra todo fim há sempre um recomeço. Uma perda é quase sempre um ganho, é muitas vezes a válvula propulsora para uma nova vida, uma nova história, um novo amanhã.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

How fair this place... - Sarah Brightman



Belíssima música interpretada por Sarah Brightman, uma de minhas cantoras favoritas. Parece um anjo cantando. A primeira vez que ouvi, logo senti um despertar de sentidos... algo que não sei como descrever em palavras. Pode-se notar que eu amo música. Escuto de tudo, mas meu estilo favorito é o Lírico. Hoje, escolho How Fair This Place, de Sergei Rachmaninov (1873-1943) e letra de G. Galina, para que vocês possam ouvir e apreciar.

Tenham um bom dia, meus queridos!
_______________________________________________________
(Tradução em inglês)

It is beautiful here
It is beautiful here ...
Look, in the distance
The river sparkles like fire,
The meadows stretch out like a coloured carpet,
The clouds are growing white.

There are no people here ...
There is just silence here ...
Only God and I are here.
Flowers, and an old pine tree,
And you, my daydream!

And you, my daydream!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Nas zonas inferiores - Por André Luiz


Eu guardava a impressão de haver perdido a idéia de tempo. A noção de espaço esvaíra-se-me de há muito. Estava convicto de não mais pertencer ao número dos encarnados no mundo e, no entanto, meus pulmões respiravam a longos haustos. Desde quando me tornara joguete de forças irresistíveis? Impossível esclarecer.

Sentia-me, na verdade, amargurado duende nas grades escuras do horror. Cabelos eriçados, coração aos saltos, medo terrível senhoreando-me, muita vez gritei como louco, implorei piedade e clamei contra o doloroso desânimo que me subjugava o espírito; mas, quando o silêncio implacável não me absorvia a voz estentórica, lamentos mais comovedores, que os meus, respondiam-me aos clamores. Outras vezes gargalhadas sinistras rasgavam a quietude ambiente. Algum companheiro desconhecido estaria, a meu ver, prisioneiro da loucura. Formas diabólicas, rostos alvares, expressões animalescas surgiam, de quando em quando, agravando-me o assombro. A paisagem, quando não totalmente escura, parecia banhada de luz alvacenta, como que amortalhada em neblina espessa, que os raios de Sol aquecessem de muito longe.

E a estranha vi agem prosseguia... Com que fim? Quem o poderia dizer? Apenas sabia que fugia sempre... O medo me impelia de roldão. Onde o lar, a esposa, os filhos? Perdera toda a noção de rumo. O receio do ignoto e o pavor da treva absorviam-me todas as faculdades de raciocínio, logo que me desprendera dos últimos laços físicos, em pleno sepulcro!

Atormentava-me a consciência: preferiria a ausência total da razão, o não-ser. De início, as lágrimas lavavam-me incessantemente o rosto e apenas, em minutos raros, felicitava-me a bênção do sono. Interrompia-se, porém, bruscamente, a sensação de alívio. Seres monstruosos acordavam-me, irônicos; era imprescindível fugir deles. Reconhecia, agora, a esfera diferente a erguer-se da poalha do mundo e, todavia, era tarde. Pensamentos angustiosos atritavam-me o cérebro. Mal delineava projetos de solução, incidentes numerosos impeliam-me a considerações
estonteantes. Em momento algum, o problema religioso surgiu tão profundo a meus olhos. Os princípios puramente filosóficos, políticos e científicos, figuravam-se-me agora extremamente secundários para a vi da humana. Significavam, a meu ver, valioso patrimônio nos planos da Terra, mas urgia reconhecer que a humanidade não se constitui de gerações transitórias e sim de Espíritos eternos, a caminho de gloriosa destinação.


Verificava que alguma coisa permanece acima de toda cogitação meramente intelectual. Esse algo é a fé, manifestação divina ao homem. Semelhante análise surgia, contudo, tardiamente. De fato, conhecia as letras do Velho Testamento e muita vez folheara o Evangelho; entretanto, era forçoso reconhecer que nunca procurara as letras sagradas com a luz do coração. Identificava-as através da crítica de escritores menos afeitos ao sentimento e à consciência, ou em pleno desacordo com as verdades essenciais.

Noutras ocasiões, interpretava-as com o sacerdócio organizado, sem sair j amais do círculo de contradições, onde estacionara voluntariamente. Em verdade, não fora um criminoso, no meu próprio conceito. A filosofia do imediatismo, porém, absorvera-me. A existência terrestre, que a morte transformara, não fora assinalada de lances diferentes da craveira comum.

Filho de pais talvez excessivamente generosos, conquistara meus títulos universitários sem maior sacrifício, compartilhara os vícios da mocidade do meu tempo, organizara o lar, conseguira filhos, perseguira situações estáveis que garantissem a tranqüilidade econômica do meu grupo familiar, mas, examinando atentamente a mim mesmo, algo me fazia experimentar a noção de tempo perdido, com a silenciosa acusação da consciência.

Habitara a Terra, gozara-lhe os bens, colhera as bênçãos da vida, mas não lhe retribuíra ceitil do débito enorme. Tivera pais, cuja generosidade e sacrifícios por mim nunca avaliei; esposa e filhos que prendera, ferozmente, nas teias rijas do egoísmo destruidor. Possuíra um lar que fechei a todos os que palmilhavam o deserto da angústia. Deliciara-me com os júbilos da família, esquecido de estender essa benção divina à imensa família humana, surdo a comezinhos deveres de fraternidade.

Enfim, como a flor de estufa, não suportava agora o clima das realidades eternas. Não desenvolvera os germes divinos que o Senhor da Vida colocara em minha alma. Sufocara-os,
criminosamente, no desejo incontido de bem estar. Não adestrara órgãos para a vida nova. Era justo, pois, que aí despertasse à maneira de aleijado que, restituído ao rio infinito da eternidade, não pudesse acompanhar senão compulsoriamente a carreira incessante das águas; ou como mendigo infeliz, que, exausto em pleno deserto, perambula à mercê de impetuosos tufões.

Oh! amigos da Terra! quantos de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração? Acendei vossas luzes antes de atravessar a grande sombra. Buscai a verdade, antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes depois.

Umbral



(Trecho retirado do livro, Nosso Lar, psicografado por Chico Xavier - página 17, título Nas zonas inferiores)

Após receber tão valiosas elucidações, aguçava-se-me o desejo de
intensificar a aquisição de conhecimentos relativos a diversos problemas
que a palavra de Lísias sugeria. As referências a espíritos do Umbral
mordiam-me a curiosidade. A ausência de preparação religiosa, no mundo,
dá motivo a dolorosas perturbações. Que seria o Umbral? Conhecia, apenas,
a idéia do inferno e do purgatório, através dos sermões ouvidos nas
cerimônias católico-romanas a que assistira, obedecendo a preceitos
protocolares. Desse Umbral, porém, nunca tivera notícias.

Ao primeiro encontro com o generoso visitador, minhas perguntas não
se fizeram esperar. Lísias ouviu-me, atencioso, e replicou:

- Ora, ora, pois você andou detido por lá tanto tempo e não conhece a região?

Recordei os sofrimentos passados, experimentando arrepios de horror.

- O Umbral - continuou ele, solícito - começa na crosta terrestre. É a
zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas
dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou
no pântano dos erros numerosos. Quando o espírito reencarna, promete cumprir
o programa de serviços do Pai; entretanto, ao recapitular experiências no planeta,
é muito difícil fazê-lo, para só procurar o que lhe satisfaça ao egoísmo. Assim é que
mantidos são o mesmo ódio aos adversários e a mesma paixão pelos amigos. Mas, nem o ódio é justiça, nem a paixão é amor. Tudo o que excede, sem aproveitamento, prejudica a economia da vida. Pois bem: todas as multidões de desequilibrados permanecem nas regiões nevoentas, que se seguem aos fluidos carnais. O dever cumprido é uma porta que atravessamos no Infinito, rumo ao continente sagrado da união com o Senhor. É natural, portanto, que o homem esquivo à obrigação justa, tenha
essa bênção indefinidamente adiada.

Notando-me a dificuldade para apreender todo o conteúdo do ensinamento, com vistas à minha quase total ignorância dos princípios
espirituais, Lísias procurou tornar a lição mais clara:

- Imagine que cada um de nós, renascendo no planeta, somos portadores de um fato sujo, para lavar no tanque da vida humana. Essa roupa imunda é o corpo causal, tecido por nossas mãos, nas experiências anteriores. Compartilhando, de novo, as bênçãos da oportunidade terrestre, esquecemos, porém, o objetivo essencial, e, ao invés de nos purificarmos pelo esforço da lavagem, manchamo-nos ainda mais, contraindo novos laços e encarcerando-nos a nós mesmos em verdadeira escravidão. Ora, se ao voltarmos ao mundo procurávamos um meio de fugir à sujidade, pelo desacordo de nossa situação com o meio elevado, como regressar a esse mesmo ambiente luminoso, em piores condições? O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena.

A imagem não podia ser mais clara, mais convincente. Não havia como disfarçar minha justa admiração. Compreendendo o efeito benéfico que me traziam aqueles esclarecimentos, Lísias continuou:

- O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra. Concentra-se, aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior. E note você que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta. Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação. Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homens encarnados, separados
deles apenas por leis vibratórias. Não é de estranhar, portanto, que
semelhantes lugares se caracterizem por grandes perturbações. Lá vivem, agrupam-se, os revoltados de toda espécie. Formam, igualmente, núcleos invisíveis de notável poder, pela concentração das tendências e desejos gerais. Muita gente da Terra não recorda que se desespera quando o carteiro não vem, quando o comboio não aparece? Pois o Umbral está repleto de desesperados. Por não encontrarem o Senhor à disposição dos seus caprichos, após a morte do corpo físico, e, sentindo que a coroa da vida eterna é a glória intransferível dos que trabalham com o Pai, essas criaturas
se revelam e demoram em mesquinhas edificações. "Nosso Lar" tem uma sociedade espiritual, mas esses núcleos possuem infelizes, malfeitores vagabundos de várias categorias. É zona de verdugos e vítimas, de exploradores e explorados.

Valendo-me da pausa, que se fizera espontânea, exclamei, impressionado:

- Como explicar? Então não há por lá defesa, organização?

Sorriu o interlocutor, esclarecendo:

- Organização é atributo dos espíritos organizados. Que quer você? A zona inferior a que nos referimos é qual a casa onde não há pão: todos gritam e ninguém tem razão. O viajante distraído perde o comboio, o agricultor que não semeou não pode colher. Uma certeza, porém, posso dar-lhe:

- não obstante as sombras e angústias do Umbral, nunca faltou lá a proteção divina. Cada espírito lá permanece o tempo que se faça necessário. Para isso, meu amigo, permitiu o Senhor se erigissem muitas colônias como esta, consagradas ao trabalho e ao socorro espiritual.

- Creio, então - observei -, que essa esfera se mistura quase com a esfera dos homens.

- Sim - confirmou o dedicado amigo -, e é nessa zona que se estendem os fios invisíveis que ligam as mentes humanas entre si O plano está repleto de desencarnados e de formas-pensamento dos encarnados, porque, em verdade, todo espírito, esteja onde estiver, é um núcleo irradiante de forças que criam, transformam ou destroem, exteriorizadas em vibrações que a ciência terrestre presentemente não pode compreender. Quem pensa, está fazendo alguma coisa alhures. E é pelo pensamento que os homens encontram no Umbral os companheiros que afinam com as tendências de cada um. Toda alma é um ímã poderoso. Há uma extensa humanidade
invisível, que se segue à humanidade visível. As missões mais laboriosas do Ministério do Auxílio são constituídas por abnegados servidores, no Umbral, porque se a tarefa dos bombeiros nas grandes cidades terrenas é difícil, pelas labaredas
e ondas de fumo que os defrontam, os missionários do Umbral encontram fluidos pesadíssimos emitidos, sem cessar, por milhares de mentes desequilibradas, na prática do mal, ou terrivelmente flageladas nos sofrimentos retificadores. É necessário muita coragem e muita renúncia para ajudar a quem nada compreende do auxílio que se lhe oferece.

Interrompera-se Lísias. Sumamente impressionado, exclamei:

- Ah! como desejo trabalhar junto dessas legiões de infelizes, levando-lhes o pão espiritual do esclarecimento!

O enfermeiro amigo fixou-me bondosamente, e, depois de meditar em silêncio, por largos instantes, acentuou, ao despedir-se:

- Será que você se sente com o preparo indispensável a semelhante serviço?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ao amor que se foi




Foi só muito amor
Muito amor demais
Foi tanta a paixão
Que o meu coração, amor
Nem soube mais
Inventei a dor
E como ela nos doeu

Ah, que solidão buscar perdão
No corpo teu
Tanto tempo faz
Tens um outro amor, eu sei
Mas nunca terás
A dor a mais
Como eu te dei
Porque a dor a mais
Só na paixão
Com que eu te amei

(Vinicius de Moraes)